Parece pouco provável, mas existe em nosso organismo uma gordura muito boa que pode ajudar a baixar o ponteiro da balança. O tecido adiposo marrom, como é conhecido pelos médicos, tem como principal função gerar calor e aumentar a temperatura corporal. “ele fica localizado próximo a grandes vasos, como a aorta, no pescoço, e na região interescapular, um pouco abaixo da nuca”, explica a endocrinologista rosana radominski, membro da Associação Brasileira para o estudo da obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso). Esse tipo de gordura difere da branca (aquela que já conhecemos) por conter nas células mais mitocôndrias, estruturas que geram energia e são ricas em ferro, elemento de coloração escura. Daí o nome gordura marrom.

Sua função é evolutiva. Nos primórdios, evitava que os homens morressem de frio quando expostos a baixas temperaturas. Com o passar do tempo, entraram em cena o uso de roupas e a construção de casas – e a ciência acreditou que essa gordura tinha perdido a função e regredido. Mas sabia-se que ela ainda estava presente nos bebês. “Quando adultos têm frio, tremem, e isso ativa a circulação, aumentando a temperatura corporal. Os bebês não têm essa reação, então a gordura marrom é necessária para protegê-los”, diz o nutrólogo Paulo Giorelli, diretor da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran). A recente descoberta é que os adultos ainda mantêm esse tipo de gordura no corpo. Por meio do exame de imagem PeT Scan, os médicos conseguiram identificar neles a presença da gordura marrom nos mesmos locais do corpo do bebê, mas em proporções menores.

Em uma pesquisa da Universidade de Maastricht, na Holanda, feita há três anos, foram observados 24 pacientes em uma sala com temperatura de 16 graus Celsius. Durante o estudo, constatou-se que a exposição ao frio ativava a gordura marrom ao mesmo tempo que reduzia a branca no corpo. “Concluiu-se que as mitocôndrias, amplamente presentes nesse tipo de tecido adiposo, utilizam os triglicérides, um dos componentes da gordura branca, como combustível para produzir calor”, explica rosana radominski. ou seja, quando acionada, a marrom precisa consumir uma parte da gordura branca, fazendo com que as células dela murchem – e é essa diminuição de tamanho que provoca o emagrecimento. “Já sabemos que o exercício físico também aciona a gordura marrom. Então, a combinação do frio com um treino aeróbico, por exemplo, potencializaria esse tipo de ação”, defende Paulo. Outro estudo, fruto de uma parceria entre três instituições americanas de saúde, verificou que as mulheres são propensas a ter mais gordura marrom do que o homem – podem chegar a duas vezes mais. e as magrinhas apresentam índices ainda maiores.

Os cientistas buscam agora uma forma de transformar a gordura marrom em arma contra o excesso de peso. “A substância responsável pela captura dos triglicérides já foi isolada e injetada em ratos, que tiveram uma perda de peso considerável. A ideia é conseguir esse efeito em seres humanos com uma cápsula que não tenha efeitos colaterais, como o aumento da temperatura corporal”, conta Giorelli. Apesar do potencial da descoberta, a médica rosana alerta que ninguém deve esperar milagres na área do emagrecimento: “Alimentação saudável e exercícios regulares continuarão tendo a mesma importância. Isso será apenas um complemento”.

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